por Hugo Otávio Cruz Reis
1|Dados indicativos
Autor:
Julio Cortázar
Editora: José
Olympio
Edição,
ano:
3ª ed. 2001
Páginas: 168
2|Dados informativos
Resumo:
Num
dia de domingo, Michel, fotógrafo amador franco-chinelo, desce as escadas de sua
moradia para ir ao encontro de uma cena, uma cena singular em meio ao temporal
de outras tantas. E ela não demora a acontecer. Sentado em um parapeito, o
fotógrafo vê diante de seus olhos a cena esperada se compor, gradativamente, na
pessoa de um colegial e uma jovem moça enamorados. É então que, com um clique,
Michel capta mais cenas do que poderia realmente processar.
Dados biográficos do autor:
Julio
Cortázar (1914-1984) nasceu em Bruxelas, mas passou boa parte da sua vida em
Buenos Aires, de onde só se mudou após Perón assumir o governo argentino. Ao
deixar o pais, em 1951, Cortázar passou a viver na França, onde trabalhou como
tradutor independente da UNESCO e pôde se dedicar ao aperfeiçoamento de sua
escrita, desenvolvendo especialmente sua habilidade como contista.
A
vasta experiência literária do autor marcou a Literatura Argentina e
reconfigurou a literatura latino-americana a partir do denominado “Realismo
fantástico”, fenômeno que promoveu o boom da Literatura Latino-Americana em
1970, com autores como José
Lezama Lima,Carlos
Fuentes,
Gabriel García Márquez
e
Mario Vargas Llosa.
Recursos
do estilo criado pelo autor:
Sobressaem-se
na narrativa de Cortázar uma melancolia poética, que adorna as passagens do
texto com uma maturidade reverenciável, e uma agilidade infatigável,
desenvolvida para simular a velocidade das conexões entre os fatos e hipóteses
estabelecidos pelo narrador.
Cortázar,
assim, desenvolve seu conto a partir de uma narrativa multi-discursiva. Tal
propriedade é devida tanto pela alternância recorrente entre passado e presente
como também pelo revezamento das vozes do texto (primeira, segunda e terceira
pessoas), o que acaba por legitimar a hesitação inicial do “narrador-escritor”,
indeciso sobre qual voz narrativa acatar.
Nessa
história impetuosa, o leitor é tomado de assalto pela ocasional interferência de
ruídos do exterior no espectro interno do conto, como, por exemplo, a passagem
de uma ave ou a aparição de uma nuvem. A disposição de tais elementos no texto
são caracterizados tanto por uma dimensão simbólica, de acordo com a qual cada
signo tem um correspondente significado a ser decifrado com o decorrer da
leitura, assim como uma dimensão referêncial, aludindo à posição do leitor em
relação ao texto e à simultaneidade dos acontecimentos presentes com os
passados, que se encontram na plataforma da narrativa.
Observações
sobre procedimentos de elaboração da linguagem da obra:
O
narrador criado por Cortázar nos é apresentado como um ser movido por uma
vontade, um desejo dilacerante, porém obscuro, de relatar um determinado
acontecimento, com o intuito de não deixá-lo se perder entre outros fatos
empoeirados pelo tempo. A partir desse impulso, o relato se desenvolverá num
viés bastante imagético, no qual a linguagem é trabalhada para apresentar-se ao
leitor de um modo quase tangível, devido ao enfoque poético-imagético das cenas
apresentadas.
Na
sequência, enquanto os procedimentos de elaboração da linguagem tendem a
capturar os pensamentos instantâneos que transpassam a mente do narrador, o
narrador é tomado de assalto por formulações metalinguísticas que o conduzem a
refletir sobre o ato de contar uma história, isto é, sobre a essência da
narratividade. Nesse sentido, há uma exploração das limitações da escrita em
primeira pessoa ao tecer grandes panos de conjecturas sobre as cenas que enxerga
e pensamentos que transitam em sua mente.
Citações ou partes exemplares mais importante:
Mas
de bobo tenho apenas a sorte, e sei que se eu for embora, esta Remington
ficará petrificada sobre a mesa com esses ar de duplamente quietas que as coisas
móveis têm quando não se movem.
Levantei
a câmara, fingi estudar um enquadramento que não os incluía, e fiquei na
espreita, certo de que enfim os apanharia no gesto revelador, a expressão que
resume a tudo, a vida que o movimento mede com um compasso mas que uma imagem
rígida destrói ao seccionar o tempo, se não escolhemos a imperceptível fração
essencial.
Contexto
social e histórico do tema referido no texto lido:
Embora
não explícitos, o contexto sócio-cultural e histórico nos quais se processam o
conto podem ser depreendidos a partir da relação de significado estabelecida por
alguns elementos textuais, como a máquina de escrever, que situa os
acontecimentos narrados num período anterior à popularização dos computadores,
inserindo o conto num contexto que antecede a tecnocracia de nossos dias, e
sugere uma espécie de relação com a escrita diferente da que vivenciamos em
nossa época.
Além
disso, o conto “As babas do diabo”, sobretudo, carrega noções morais e sociais
não só presentes como constantes em nossa sociedade, a saber, o que se observa
nas ações e reações do fotógrafo diante da cena intimista protagonizada por um
colegial e uma jovem mulher.
Situar
a obra ou o texto lido entre outras produções do mesmo autor:
Famoso por seus contos, nos quais o real é simulado a partir de elementos do
universo fantástico, Julio Cortázar possui uma bibliografia abundante que incluí
títulos como o celebrado romance Jogo
de Amarelinha,
construído para uma leitura interativa, História
de Cronópios
e fantamas e a coletânea Bestiario.
O autor e seus contemporâneos:
O
Realismo fantástico marcou a Literatura do séc. XX na América Latina. Dentre os
escritores que partilham dessa vertente com Cortázar estão García Márquez, Vargas Llosa
Alejo Carpentier e Roberto Bolaño.

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